Tarifaço de Trump entra em vigor e acende alerta sobre impactos na Zona Franca de Manaus

Trump anuncia tarifas recíprocas — Foto: REUTERS/Carlos Barria
Entraram em vigor neste sábado, 5 de abril de 2025, as novas tarifas de importação anunciadas pelo ex-presidente e atual mandatário dos Estados Unidos, Donald Trump. A medida, que estabelece uma tarifa base de 10% sobre a maioria dos produtos importados, representa uma guinada na política comercial norte-americana e já provoca reações em diversos países, incluindo o Brasil.
De acordo com o jornal The Guardian, o aumento tarifário é parte de uma estratégia do governo Trump para estimular a indústria interna e reduzir a dependência de produtos estrangeiros, principalmente da China. No entanto, a decisão afeta um amplo espectro de países exportadores, inclusive o Brasil, que tem nos Estados Unidos um dos principais destinos de seus produtos industrializados.
O governo brasileiro manifestou preocupação com a decisão e, em resposta, o Congresso Nacional aprovou um projeto de lei que autoriza o país a adotar medidas de reciprocidade sempre que ações de parceiros comerciais forem consideradas prejudiciais às exportações brasileiras. A medida busca garantir margem de negociação e proteger setores estratégicos da economia nacional.
Impactos na Zona Franca de Manaus
A Zona Franca de Manaus (ZFM), polo industrial incentivado com isenções fiscais, pode ser diretamente afetada pela nova política tarifária dos Estados Unidos. Embora a maior parte da produção do polo industrial se destine ao mercado interno, diversas empresas instaladas na região mantêm operações de exportação para mercados internacionais — inclusive o norte-americano.
Com as novas tarifas, produtos fabricados na ZFM que tenham os Estados Unidos como destino final podem perder competitividade devido ao aumento do custo de importação naquele país. Isso se aplica especialmente a setores como o de eletroeletrônicos, duas rodas e componentes industriais.
Apesar da preocupação, especialistas apontam que o impacto direto dependerá do volume de exportações efetivamente destinadas aos EUA. “O polo de Manaus não é altamente dependente das exportações americanas, mas qualquer medida que reduza a competitividade internacional do Brasil deve ser tratada com atenção”, avalia o economista Pedro Vasconcellos, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Por outro lado, há quem veja oportunidades no cenário adverso. A depender de como outros países reagirem às tarifas norte-americanas, produtos brasileiros podem ganhar espaço em mercados alternativos ou até mesmo nos próprios EUA, caso o Brasil consiga negociar acordos bilaterais que mitiguem os efeitos do tarifaço.
“A Zona Franca precisa aproveitar o momento para ampliar sua inserção em novos mercados e diversificar sua pauta exportadora”, avalia a consultora de comércio exterior Marília Figueiredo. “A crise pode ser também um ponto de virada estratégica.”
Monitoramento e cautela
Autoridades do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços afirmaram que estão monitorando os desdobramentos da medida norte-americana e manterão diálogo com o setor produtivo para avaliar possíveis impactos. No caso da ZFM, o Conselho de Administração da Suframa deve promover estudos específicos sobre os efeitos da política comercial dos EUA nas exportações da região.
Enquanto isso, representantes da indústria e da bancada amazonense no Congresso cobram ações preventivas e mais incentivos à competitividade do modelo Zona Franca, especialmente em um cenário internacional mais restritivo.
O governo federal ainda não anunciou medidas concretas em resposta ao tarifaço, mas há expectativa de que o tema seja tratado nas próximas reuniões bilaterais entre Brasil e Estados Unidos.
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